Algoritmo$ Milionário$

A vida fica mais fácil para quem é fera em matemática. Não importa o país.

 

Eis uma boa indústria de exportação para um país que não dispõe de muito capital, mas tem muito poder cerebral : matemática. Os custos de equipamentos são muito baixos. Basta ter um bloco de notas e um lápis bem apontado. O valor adicionado é potencialmente muito grande: algoritmos de software no valor de dezenas ou centenas de milhões de dólares. A era do computador vai enriquecer muitos matemáticos - aliás, já os está enriquecendo. Embutidas em coisas como máquinas de eletrocardiogramas, telefones, videogames e aparelhos de recepção a TV a cabo, há fórmulas complexas que ditam um resultado com base numa série precisa de passos matemáticos. Se seus algoritmos forem melhores que os dos outros, seu aparelho de eletrocardiograma - ou seja lá o que for - operará mais rápido, produzirá mais ou fornecerá uma imagem melhor que a dos produtos concorrentes.

O produto final, elegantemente embalado, provavelmente virá de um país industrializado como os Estados Unidos e o Japão. Mas o algoritmo pode vir de qualquer lugar onde existam bons matemáticos - Índia e Rússia, por exemplo. Israel também vem apresentando ótimo desempenho nesse setor intelectual. Pelo menos uma dúzia de companhias sediadas em Israel decidiu abrir seu capital depois do sucesso de produtos que continham algoritmos extremamente sofisticados criados por elas.

Eli Mintz, 33 anos, um matemático tornado empresário, começou sua carreira numa cidade tão árida no deserto que visitas ao túmulo de David Ben Gurion ofereciam-lhe a única distração do trabalho. O local era uma necessidade, não uma escolha. Incapaz de levantar dinheiro de fontes privadas, Mintz e dois sócios pediram ajuda ao governo, que lhes deu 120 000 dólares em capital e um escritório na remota cidade de Sde-Boker.

Mintz e sua equipe sobreviveram ao exílio no Deserto do Negev e hoje prosperam na cosmopolita Tel-Aviv. Executivo-chefe da Compugen, empresa fundada há cinco anos, Mintz hoje comanda mais de cinqüenta funcionários atarefados com o projeto, a montagem e as vendas de uma caixa preta e prateada chamada Bioccelerator, que ajuda um computador comum a comparar uma porção de ADN a uma biblioteca de genes conhecidos. É o projeto Genoma Humano. O valor do produto não está no hardware, mas nas fórmulas matemáticas que dizem como identificar as equivalência e como encontrá-las. Será que esse pedacinho de material genético é exatamente igual, razoavelmente semelhante ou completamente diferente da amostra?

O reconhecimento de padrões é o Santo Graal da inteligência artificial - pense no potencial para robôs em linhas de montagem, bombas inteligentes, verificação de assinaturas. O ponto forte da Compugen é a velocidade. Mintz diz que seus algoritmos oferecem um aumento de 1000 vezes na velocidade de computação, o que é fundamental quando se trata do genoma humano contendo bilhões de unidades de ADN. A Merck, gigante da indústria farmacêutica dos Estados Unidos, ficou tão impressionada com a invenção da Compugen que adquiriu a primeira máquina produzida pela companhia, e, depois disso, outras duas, ao preço de 200 000 dólares cada. É o algoritmo multiplicando dinheiro.
Reportagem extraida da revista Info Exame de 04/98

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